• Jorge Amado
     BERIMBAUS, OS DE MESTRE WALDEMAR
     Bahia de Todos os Santos. Guia de ruas e mistérios

    (27a edição de 1977)

    Parte do livro

    Berimbaus, os de mestre Waldemar

    Todo turista ao partir da Bahia, de retorno ao lar, leva obrigatoriamente, como recordação da estada, um berimbau de capoeira. Faz bem: trata-se de lembrança colorida, curiosa, musical e de fácil transporte — o viajante empunha o instrumento e vai em frente.

    Ao comprar, porém, procure saber se o berimbau escolhido foi feito por mestre Waldemar, capoeirista renomado, em cujo terreiro na Liberdade, quando ele mantinha escola aberta, iam brincar os grandes mestres Traíra e Bom Cabelo, hoje desaparecidos. Os berimbaus de Waldemar não têm competidores, na aparência e no som. Mesmo sendo trabalho de Waldemar o bonito berimbau, delicado suvenir de viagem, não dará som perfeito, afinado como deve ser, quando o feliz possuidor, de regresso ao lar, exibir-se para os amigos na melodia que mestre Gato lhe ensinou tocar, se ao comprá-lo esqueceu o turista de exigir a moeda de vintém, indispensável à limpidez e harmonia do som. Não esqueçam os viajantes da moeda nem do caxixi, necessário ao acompanhamento. No caso do vintém, prestem atenção à qualidade do cobre e ao aspecto revelador da data da emissão: houve ultimamente um derrame de vinténs falsos na praça da Bahia — o pintor Carybé andou envolvido no caso — e com vintém de latão o som do berimbau se perde e enrouquece, aparentando-se ao da gaita de foles. Aconselhe-se com Camafeu de Oxóssi, é solista de berimbau, autoridade na matéria. Ou com os mestres Pastinha, Gato, Canjiquinha, com o próprio Waldemar, homem direito.

    Post-Scriptum sobre os dois Waldemar para esclarecimento dos paulistas

    Aos turistas vindos de São Paulo, tão numerosos e simpáticos, um esclarecimento se impõe, para evitar possíveis complicações. Mestre Waldemar, capoeirista, artesão fabricante de berimbaus, e o baiano Waldemar Sziniewski, residente na capital de São Paulo, marchand-de-tableaux, não são a mesma e única pessoa, como o último tem feito crer afoitamente. O primeiro reside na Estrada da Liberdade, bairro operário de Salvador, e se ocupa apenas com seus berimbaus, enquanto o xará mora em bairro rico de São Paulo e vende em "A Galeria" (a preços altos) óleos, guaches, esculturas, desenhos, gravuras, talhas de artistas baianos que adquire em Salvador (a preços baixos). Quando não os consegue pelos preços desejados, ele os fabrica. Em comum, os dois Waldemar possuem apenas a cidadania, a habilidade manual e a simpatia irresistível.

    [..]

    Peri-Peri, setembro de 1977 [o tempo em que completou esta edição - velhosmestres.com]
    Londres, junho de 1976

    A capa do livro

    • Jorge Amaso, 1977

    Jorge Amaso, 1977


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