• Anthony Leeds
     Gravação por antropólogo americano 
    Salvador, jun/jul 1951

    Foto de Anthony Leeds

    • Anthony Leeds (1925-1989)

    Anthony Leeds


    Gravações de 1951

    Os músicos identificados na gravação são Valdemar Rodrigues da Paixão (mestre de capoeira) e Antonio Messias dos Santos no berimbau. As letras falam dos canganceiros. A gravação consta das três partes:

    Faixa 1 Ladainha Valente Vilela - canta M Waldemar. Segue abaixo a transcrição por Hilton Teimosia Souza, adições por Pai de Olivia (Fabio Melo), Daniel Ribeiro Mattar e Sven Cajueiro.

    Faixa 2 Instrumental. Antonio Messias dos Santos (berimbau) e demais músicos (pandeiro, caxixi).

    Faixa 3 Ladainha Era eu, era meu mano - canta M Traíra? / Corrido Paraná - canta M Traíra? & M Waldemar. Antonio Messias (berimbau) e demais músicos (pandeiro, caxixi).

    Pesquisa por Pol Briand



    1 Ladainha Valente Vilela

    Iê!
    Senhores peço licença
    Para contar uma história
    Do cangaceiro Vilela
    Trago sempre na memória
    É que lutou quinze anos
    Sempre alcançando vitória
    Morava na Serra Torta
    Esse homem de perigo
    Ele lutou quinze anos
    E não teve uma só luta
    Que ele saísse vencido
    Ali tinha um capitão
    Um sujeito muito ousado
    Disse "Eu vou na Serra Torta
    Trago Vilela amarrado"
    No outro dia bem cedo
    Marcharam para o lugar
    Onde morava Vilela
    O povo foi ensinar
    Cercaram ali a casa
    Ficaram de prontidão
    Chegou lá o capitão
    Mandou a casa cercar
    Cercaram ali a casa
    Ficaram de prontidão
    „Vilela tu abre a porta
    Por ordem do capitão
    Você hoje sai daí
    Direitinho para a prisão“
    Vilela tava em casa
    Sem nada disso saber
    Disse "Vocês vão embora
    Não venham me aborrecer
    Responda-me soldado
    Se veio matar ou morrer"
    "Não vim matar e nem morrer
    Tá enganado, sujeito
    Você hoje me dá conta
    Das mortes que já tem feito"
    Vilela tava em casa
    Sem nada disso saber
    Disse "Vocês vão se embora
    Não venham me aborrecer
    Responda-me, soldado
    Se veio matar ou morrer"
    "Não vim matar e nem morrer
    Tá enganado, sujeito
    Tenho ordem do delegado
    Força juiz de direito
    Você hoje me da conta
    Das mortes que já tem feito"
    "Já matei vinte e nove
    Com você quebro o jejum
    O homem que mata cem
    Também mata cento e um"
    "Vilela abre a porta
    Deixa de contar vantagem[?]
    Fama não me intimida
    Hoje eu não estou de graça
    Toco fogo na casa
    Você morre na fumaça"
    "Vou lhe perguntar uma coisa
    Só porquê lhe quero bem
    Não me desculpo a ninguém
    Tu fique com tua boca
    Qual força de praça tem?"
    "Tenho cento e oitenta praças"
    Respondeu-lhe o capitão
    Vilela respondeu
    "Não me entrego a prisão
    Com cento e oitenta praças
    Brigo em pé, brigo deitado
    Chega[?] aí no terreiro
    Mande só prá um soldado"
    "Já mandei-lhe um despacho
    Prá ti diz a questão
    Eu estou pronto a esperar
    A morte de um ladrão
    Hoje sangue pro riacho
    Vai escorrer em borbotão"
    "Delegado dos diabos
    Você me agravou agora
    Prepare seus armamentos
    Que Vilela sai lá fora"
    Vilela abriu a porta
    Para o terreiro pulou
    Os soldados com as armas
    Contra ele disparou
    As balas batiam nele
    Porém não faziam nada
    Batiam nos soldados
    Voltavam prá trás danadas
    Só pro pé dos soldados
    Vinham cair amassadas
    Os soldados se espantaram
    Perderam as armas de fogo
    O rifle e granadeiro
    Ficou o capitão
    Ali sozinho no terreiro
    Está agora estes dois homens
    Parecendo dois novilhos
    Foram ao fogo de pólvora
    Terminaram a ferro frio
    "Taí, seu desgraçado
    Não pretendo mais dizer"
    Vilela foi a ele
    Para matar ou morrer
    O alferes deu um pulo
    No momento que pulou
    Um osso de ponta aguda
    No meio do pé entrou
    Vilela saltou por cima
    E na abertura pegou
    "Valha-me Nossa Senhora
    Mãe de Deus Poderoso
    O que dai-me de engolir?
    Que fel tão amargoso?"
    Dava conselho em problema
    Tu tomava prá seu mal
    Para ti não ha perdão
    Nesse momento fatal
    Tu vai me engolir
    A rolha do meu punhal"
    Sai a mulher de Vilela
    Com uma imagem na mão
    "Vilela, não mate o homem
    Tenha dele compaixão
    Ele tem filhos pequenos
    Iam ficar sem ??? pão[?]"
    "Sai-te daqui mulher
    Eu não quero seus conselhos
    Se ele tivesse me morto
    Tu não achava tão feio?
    Eu quero matar o homem
    Você vem meter no meio"
    "Vilela não mate o homem
    Ele está tão precavido
    Você também é casado
    Pode precisar um dia"
    "Eu não sei o que tem mulher
    Que todas elas são penosas
    Quando tem barulho em casa
    Ficam todas tão maliciosas[?]"
    Vamos-nós embora!

    Acervo da gravação



    Valente Vilela, 1951

    Valente Vilela, 1951


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