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    Demerval Lopes de Lacerda
     Mestre Leopoldina 
    12/fev/1933 - 17/out/2007







    O ABC de M Leopoldina

    1933 - Nasceu no 12 de fevereiro no Rio de Janeiro num sábado de carnaval.

    1951 - Começou aprender capoeira com Quinzinho em Rio. Também começou a vender jornais e montou uma equipe de pivetes.

    1955 - Tornou-se aluno de M Artur Emídio.

    1960 - Chegou a organizar um grupo de 60 capoeiristas na ala V.C. Entende da Mangueira.

    1961 - Saiu com a Mangueira pela primeira vez no carnaval.

    1963 - Em 22 de dezembro apareceu no Jornal do Brasil de Rio de Janeiro (leia abaixo).

    1974 - Parou sair com a Mangueira.

    1977 - Participou no filme Cordão de Ouro.

    1987 - Fez parte do evento em Ouro Preto.

    2005 - Estrelou-se em “Mestre Leopoldina, o último bom malandro”.

    2007 - Foi lançado o documentário “Mestre Leopoldina: A Fina Flor da Malandragem”. Faleceu no 17 de outubro em São José dos Campos/SP.


    M Leopoldina numa roda, 2005

    M Leopoldina, 2005



    Galeria de fotos

    • M Leopoldina 1996

    • M Leopoldina 1996

    • M Leopoldina 2004

    • ? (berimbau),
      M Jaguara (berimbau),
      M Leopoldina (berimbau)

    • Em pé: M Angoleiro
      Sentados:
      M João Pequeno,
      M Suassuna,
      M Caiçara,
      M Gigante,
      ?,
      M Eziquiel
      Agachados:
      M Leopoldinha, M Paulo dos Anjos (ao fundo) e M Joel
      Ouro Preto, dez 1987

    • M Meinha e M Leopoldina

    • ?,
      M Lua Rasta,
      M Leopoldina,
      ?,
      M Gigante

    • M Leopoldina

    • Sentados:
      M Leopoldina,
      M Mendonça,
      M Mucungê

    • Sentados:
      M Nó,
      M Itapoan,
      M Leopoldina,
      M Paulo dos Anjos

    • M Leopoldina jogando

    • M Leopoldina e M Camisa

    • M Leopoldina,
      M Peixinho,
      M Gato,
      M Toni Vargas,
      M Ramos

    • M Leopoldina e ?

    • M Leopoldina

    • M Gildo Alfinete, M Leopoldina e M Boa Gente

    • M Leopoldina

    • M Leopoldina, ? e ?

    • ?,
      M Sorriso,
      M Leopoldina,
      ?,
      M Peixinho,
      M Paulo Siqueira

    • ?,
      M Caiçara,
      M Leopoldina,
      M Eziquiel,
      M João Pequeno,
      ?,
      ?

    • ?,
      M Paulão,
      M Leopoldina,
      ?
      M Eziquiel,
      M João Pequeno

    • M Leopoldina

    • M Jaguara e M Leopoldina

    • M Leopoldina

    • M Leopoldina

    • M Leopoldina,
      M Gato Preto,
      ?,
      M Gaguinho

    • M Leopoldina, M Polar e M Gato Preto

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    M Leopoldina

    Capoeira renasce no Rio com suas velhas tradições

    • Jornal do Brasil
      Guanabara/RJ
      22.12.1963

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      Foto: A volta por cima. André Lacé Lopes executa um rolé à perfeição do qual Leopoldina procura esquivar-se, mão direita no chão e uma esquiva de tronco
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      página 2

      Nasceu no capão

      O prêto escravo fugia da senzala e ia se esconder do feitor num capão de mato. Quando o feitor chegava ao capão, o prêto, evidentemente não se entregava sem luta: gingava, pulava, levantava a perna, se esquivava, numa dança típica cujas origens estavam enraizadas lá em sua longíngua África. Mas como aqui ela se desenvolveu inicialmente num capão do mato, etimológicamente a palavra capoeira está ligada a sua localidade primeira – dizem os estudiosos que se interessam por ela.

      O prêto recapturado, então, para não reagir mais contra o feitor, foi proibido de desenvolver a chamada luta de capoeira e introduziu nela então o instrumentozinho de sôpro chamado urucum, com o qual amenizava o sentido de luta e jôgo – que é a essência da capoeira – para transformá-la num ritual. O desenvolvimento dêsse ritual é que foi se cristalizando capoeira atual, através de rodas fechadas – a roda de capoeira – e de adaptação do jôgo a festas regionais.

      Urucum e berimbau

      O urucum transformou-se no berimbau atual, num processo que não chegou a distanciá-lo muito de seu aspecto primitivo – e a capoeira antiga, transportada para as cidades, virou bossa de malandro, no que não desmentia suas melhores origens, ao contrário, permanencia até muito fiel a ela, essencialmente jôgo e luta. E nas cidades deu tanto trabalho como briga de malandros que foi proibida, rigidamente no Rio (onde funcionavam os grupos dos Guaiamus, em Santa Luzia, dos Nagôs, na Lapa, e das Cadeiras de Sinhá, no atual Tabuleiro da Baiana) e menos estrepitosamente na Bahia. No Rio ela chegou a provocar com que os policias andassem de cavalo e um longo chicote na mão para atingir de longe os capoeiristas. Por isso, aqui, ela praticamente morreu, após culminar, na Primeira República, quase a derrubar um Gabinete.

      Foi no tempo de Deodoro, quando Jura Reis, um filho do Conde de Matozinhos – rapaz que corresponderia hoje a um de nosso play-boys, e emérito fechador de botequins na ocasião – foi prêso por Sampaio Ferraz, então Chefe de Polícia, pela prática da capoeira, de que era executante digno de ombrear com os melhores malandros da cidade. Jura Reis prêso, o Conde recorreu a seu amigo Ministro Quintino Bocalúva, para que soltasse seu filho. Quintino foi a Deodoro e o Presidente chamou o Chefe de Polícia, cuja reação foi imediata: „não solto porque senão estou desmoralizado.“

      Sampaio Correia teve mão forte e isso foi um passo decisivo para a repressão cada vez maior à capoeira, que foi sumindo do Rio. Foi sumindo, mas ressurge agora.

      Sinhôzinho

      Ressurge em bases inteiramente diferentes, embora dentro de sua melhor tradição – nunca é demais repetir – como jôgo e como luta. Em bases diferentes porque não ressurge como briga de malandros, mas conservando suas melhores tradições porque ressurge como a velha capoeira de roda, a primitiva.

      A figura de Sinhôzinho foi sem dúvida uma fôrça pelo ressurgimento da capoeira, no Rio. Mas Sinhôzinho não jogava com as tradições da capoeira pura, introduzindo um método próprio. De qualquer maneira, agregado a uma academia de luta e defesa, em Copacabana, desenvolveu numa série de moços – aquêles que passavam pelas duras provas às quais eram levados por Sinhôzinho – o gôsto por um esporte nôvo, cujo desenvolvimento êles foram aproveitando de maneira nova, numa busca às fontes tradicionais em que foram muito ajudados pelo baiano Artur Emídio.

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      página 3

      Foto: O ritmo do berimbau. Mestre Artur Emídio e Leopoldina dão início à luta, sob as batidas de palmas dos companheiros e um berimbau executado ao capricho

      Mestre Emídio

      Artur Emídio nasceu em Itabuna e lá aprendeu as primeiras lições de capoeira com o velho Paizinho, expoente da arte na região. Veio para o Rio há muitos anos e aqui não abandonou a capoeira que tinha aprendido com amor e dedicação.

      É, realmente, na atualidade, um dos melhores capoeiristas do País e, no Rio, seu maior incentivador. Abriu uma Academia de Capoeira, em Copacabana, mas a falta de divulgação do esporte e alguns preconceitos velhos contra êle fizeram com que essa academia não vingasse. Mestre Artur Emídio mudou-se então para Bonsucesso e lá sua academia progride. É hoje uma fôrça e já tem inclusive alunos seus que estão abrindo novas academias, cuja lista completa hoje já é muito grande, no Rio de Janeiro.

      Vamos a essa lista, com os bairros a que pertencem essas academias:

      1 – Signo de Fôrça – Copacabana;
      2 – Apolo – Rua Uruguiana;
      3 – Fábio Rudge Maia – Grajaú;
      4 – Djalma Bandeira (discípulo de Emídio) – Olaria;
      5 – Angola – Madureira;
      6 – Artur Emídio – Bonsucesso;
      7 – Policía de Vigilância;
      8 – Centro de Esportes da Marinha dob a direção de Lamartine Pereira da Costa;
      9 – Academia de Capoeira de Nilópolis;
      10 – Afonso Pena – Trajai;
      11 – Academia de Campo Grande;
      12 – Policía Feminina;
      13 – Grupo Capoeiras do Bonfim de Mestre Mário Santos – São Cristovão. Esta academia, dia 25, pois o dia de Natal é o dia de sua festa anual, presta uma homenagem a Mestre Artur Emídio, convidando todos os grupos para um espetáculo de demonstração.

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      página 4

      „Operação-capoeira“

      O ritmo da capoeira quem dá é o berimbau, normalmente em número de três e um pandeiro.

      Toda a movimentação de capoeira quem dá atualmente é o grupo „Operação-capoeira“ que tem no moço André Luiz Lacé Lopes, professor da Academia Apolo na Rua Uruguiana e da Signo de Fôrça, em Copacabana uma de suas figuras mais dedicadas. Foi o grupo „Operação-Capoeira“ com sua divulgação tutensa, quem permitiu inclusive que começasse a se desenvolver em Copacabana o esporte, cujo fracasso inicial, com o grupo de Mestre Artur Emídio, de certa forma serviu como incentivo para essa reação. André Lacé Lopes é, no momento, talvez o maior incentivador da capoeira no Rio, inclusive viajando muitas vezes a Salvador para manter contato com os grupos de Angola e de São Bento Grande, este dirigido pelo famoso Mestre Bimba.

      O ritual

      A diferença entre os dois grupos principais baianos está principalmente no ritmo: Angola é uma toada lenta do berimbau, enquanto no São Bento Grande o sôpro é mais acelerado. No Rio, os grupos procuram fundir as duas tendências, para não diferenciar a capoeira em duas escolas não cindi-la. Começam o ritual fazendo o „nome-do-padre“ e depois entoam a chula, que é a pequena canção com que iniciam a capoeira e que continua, durante todo o seu transcorrer. A chula inicial, por ser a introdutória, recebe o nome especial de preceito. Eis o preceito mais comum com que se iniciam as capoeiras de roda cariocas:

      „Ai quando eu tinha dineiro,
      Dormia [Comia?] na mesa com Sinhó,
      Dormia na cama com Sinhá,
      Agora o dinheiro acabou,
      Moleque chega pra lá.
      Camará…“

      Vulgarização

      Várias chulas estão sendo inclusive popularizadas com a divulgação da capoeira, inclusive um estribilho de um deles – o „água de beber“ – que Vinicius de Morais popularizou. Essa parte de ritmo é essencial, mas a essência da capoeira está no jôgo e na luta. O jôgo supervaloriza o ritmo – e com qualquer toque um dos dois o consiga já é considerado vencedor. Vale sobretudo o [..]. Na luta, que entra quando acelera o ritmo do berimbau, é necessário desequilibrar ou traumatizar o adversário para vencer.

      No ritmo, no jôgo e na luta, a capoeira vai ganhando alicerces no Rio e, se a Federação Carioca de Pugilismo, é que está filiada, ainda não lhe deu crescimento, ela vai encontrando fôrça para crescer por si mesma e ir apaixonando aos poucos a cidade, pois quem a vê descobre nela a beleza.


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