•  Troca de palavras com Caetano José Diogo 

    No dia 31 de Dezembro de 1921, em terreno do Engenho Santo Antônio do Rio Fundo, no distrito do mesmo nome, o denunciado depois de uma troca de palavras com Antônio [Caetano] José Diogo, que passava pela estrada, investe contra este, armado de um facão, produzindo-lhe os ferimentos graves descritos no corpo de delito, dos quais lhe resultaram a amputação do dedo mínimo da mão direita.

    Fonte

    Besouro chegou a ser processado em Santo Amaro, por agredir um homem, em 1922

    Caetano José Diogo recebeu o aviso assim que cruzou a porteira. Os meninos que brincavam perto do portão do Engenho Santo Antonio do Rio Fundo lhe disseram que era melhor ir com cuidado, se possível até evitar aquele caminho, porque mais adiante, seguindo por aquela estrada, estava um homem conhecido por Besouro. Funcionário de confiança do doutor Zeca, não permitiria que ninguém cruzasse a propriedade de seu patrão para encurtar caminho: era preciso manter a ordem.

    Mas o homem não deu ouvidos aos garotos. Havia ido a Jacuípe vender laranjas no dia « e ansiava por chegar o quanto antes em casa, no lugarejo de Igreja Nova - afinal, era 31 de dezembro. Vinha montado no cavalo, em companhia de um menino chamado Conrado, seu ajudante. Quando se aproximava da Usina Paranaguá, avistou um homem de "cor escura, quase preto, que lhe chamou".

    Nessa hora, o simples vislumbrar da figura de Besouro o fez perceber o perigo da situação em que se envolvera passando pela propriedade para encurtar caminho. Sequer pensou duas vezes antes de fugir, mas se viu obrigado a retornar quando avistou Conrado nas mãos de Besouro. "Mas, neste instante, o homem (Besouro) larga o menino e investe para o depoente de facão em punho e ali começou a luta, saindo o depoente com os ferimentos que apresenta, não tendo sido morto por causa do cabo de manguá com o qual aparou diversos golpes".

    É assim que a história aparece relatada no processo criminal da Comarca de Santo Amaro, datado de 1922, tendo como réu Manoel Henrique, "vulgarmente conhecido por Besouro". Mas essa é a versão contada pelo próprio Caetano, que, entre os ferimentos, perdeu o dedo mínimo da mão direita.

    Em meio à poeira do Arquivo Municipal de Santo Amaro, com letras difíceis de serem decifradas, desenhadas em páginas já amareladas, estão também as versões contadas pelas duas únicas testemunhas do caso.

    O vaqueiro José Maria da Paixão, por volta das 16h, viu Besouro se aproximar de Caetano e pedir que fechasse a porteira. "Ao que Caetano respondeu que não fechava e deu com o cabo do manguá em Manoel Henrique, sendo este forçado a puxar o facão e dar em Caetano".

    O lavrador Francisco Alves Soares também ouviu a discussão. Segundo ele, foi o "rapazinho", Conrado, que iniciou a briga, dando uma pancada na cabeça de Besouro. "Talvez Besouro estivesse em um dia de grande irritação; talvez ocasionada pelo fato de ele ter de ficar fechando a porteira todas as vezes que alguém passasse pela estrada, ordens de seu patrão", analisa o pesquisador Antônio Liberac no livro Bimba, Pastinha e Besouro Mangangá - três personagens da capoeira baiana.

    A versão de Besouro sobre o caso deve ter se perdido nas conversas do cais do porto de Santo Amaro, nas rodas de capoeira, nas trilhas dos canaviais. Ele nunca apareceu para prestar depoimento e seria julgado à revelia. Mas, por algum motivo, o caso permaneceu arquivado no fórum de Santo Amaro da Purificação até ser encerrado devido à morte de Manoel Henrique, em 1924.

    Fonte

    Encontro do Besouro e Caetano José Diogo



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