M Besouro:
«Era costume Besouro presentear seus amigos mais chegados com penas de pavão arrancadas dos chapéus dos valentões do recôncavo baiano.»
«É que tem o livro São Cipriano. [..] São Cipriano [..] diz que tinha vindo com os africano [..] uns patuás que eles tinham, botaram no corpo. Tem uma fava-da-índia que é no corpo, não tem mais o negocio – botar no corpo fava-da-índia. Batia e ferro não dava no corpo dele. É que tinha o Besouro. Fava-da-índia no corpo. Bala batia e caiu no chão. Bala não dava nele, batia, caiu no chão. Cobrinha Verde tinha isso também. A faca não dava nele, nada [..] nele. Depois ele perdeu a força, a fava não serviu mais nada.»
«Nas rodas de capoeira do Trapiche de Baixo (até hoje o bairro mais pobre de Santo Amaro) e nas festas populares, o jovem Besouro começou a se destacar. O seu forte era a agilidade, a rapidez de raciocínio, a calma e a surpresa, além de ter o corpo fechado com fortes mandingas e rezas. Paulo Barroquinha, Boca de Siri, Noca de Jacó, Doze Homens e Canário Pardo, todos moradores do local, foram os seus companheiros nas memoráveis rodas de Capoeira que hipnotizavam quem quer que passasse.»
«Era exímio jogador de capoeira, assim como no manejo do facão e da navalha. Incluindo o jogo de “santa-maria”. Jogo violento onde os capoeiristas jogavam com uma navalha presa aos pés.»
«Besouro Preto, de Santo Amaro, ele era primo de meu pai (Maximiano Pereira dos Santos), e eu ouvia falar no Besouro Preto, e eu também queria ser valentão, mas queria ser um valentão que batesse em todo mundo que aparecesse e fosse vencedor (...) Na fazenda de São Pedro, encontrei com mestre Juvenço, que trabalhava de ferreiro e era capoeirista, era amigo de Besouro, ele me contou muitos casos de Besouro, até da morte dele.»
«[..] primeiro contato [do Besouro] com o mundo da capoeira se deu com um velho africano de nome Alípio, que era cativo do Engenho Pantaleão. Nas lavouras de cana, o discípulo ouvia e aprendia com o velho, os ensinamentos de capoeiragem. Tio Alípio era Babalaô, tinha sido escravo de gente de posse ainda moço jovem, filho de uma negra que veio num tumbeiro trazida do Porto de São Jorge da Mina, do Daomé.»
«Besouro era um valentão. A fama era ainda maior. A fama fazia a rua fechar. Uma vez a moça que me criava queria me levar para o colégio. Eu tinha muito medo. Besouro estava na cidade e a cidade estava toda fechada. A polícia cercava a cidade. Queriam pegar Besouro. Eu não queria ir para o colégio, pois tinha medo de Besouro.»