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     CAPOEIRA, KARATE BRASILEIRO 
    por Mestre Pastinha, março 1964

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    Black Belt, 1964



    O texto

    • página 1

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      Capoeira, karate brasileiro
      M Pastinha, 1964
      Tradutor: Joares Marcelo dos Santos Patines

      Os jogadores pulariam, enrolariam, cambaleariam, dariam rasteira e chutariam seus oponentes, então evitariam retaliação escorregando no chão como serpentes.

      [legenda da foto] Demonstrando conhecimento de alavanca corporal, Mestre Pastinha se prepara para desequilibrar o adversário.

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      página 2

      Há cerca de 400 anos, em Angola, na costa oeste da África, uma forma de combate praticada pelos indígenas começava a ganhar corpo no que hoje chamaríamos uma arte marcial.
      Quatro séculos depois, graças a um vínculo mútuo com Portugal que Angola compartilha com o Brasil, a Capoeira é praticada naquela nação sul-americana. Entretanto não é mais o método selvagem de autodefesa que se originou no Continente Negro. E assim continua uma história.
      Nos dias das grandes plantações, os proprietários tinham uma visão sombria da capacidade para a violencia que os nativos possuíam. Os praticantes de Capoeira sofreram grande perseguição nas mãos da polícia dominada pelo patrão.
      Para evitar essa perseguição, os capoeristas começaram a camuflar seu "esporte" transformando-o em uma dança esquisita, composta de pantomima, música e danças. A capoeira deixou de ser uma questão de violência e morte, para se tornar uma diversão. Tornou-se costume referir que “os nativos jogam ao estilo angola”.
      Até mesmo os capatazes da plantação aplaudiriam as "performances", já que os "jogadores" saltavam, enrolavam, saltitavam, davam rasteira e chutavam seus oponentes, e então evitavam retaliação escorregando no chão como serpentes.
      Então, apesar das dificuldades iniciais, a Capoeira pegou, nomes lendários apareceram - lutadores invencíveis, homens com carne impenetrável por faca ou bala; homens sob contrato com o diabo; homens com feitiços contra o mais poderoso dos inimigos; homens que poderiam se libertar de qualquer tipo de armadilha.

      INSTRUMENTOS DE CAPOEIRA
      O Berimbau (uma espécie de harpa) pode ser dividido em dois tipos: o Berimbau de boca e o Berimbau de barriga. O Berimbau de boca era utilizado pelos antigos angolanos, por isso costumava-se dizer que era originário de Angola. Isso, no entanto, é contestado por alguns estudantes do assunto. Consiste em um laço que aperta uma corda de "timbó" (uma espécie de cipó). A câmara de ressonância é a boca do jogador. O cordão é feito para vibrar ao ser golpeado com uma faca.
      O Berimbau de barriga é o tipo mais comum. É formado por um pedaço de madeira denominado "pau-pombo" que mantém a tensão em um arame de aço. O ressonador é uma pequena cabaça presa ao arame por um barbante. O arame produz um som que é modulado por uma moeda de cobre, enquanto a boca da cabaça é colocada a distâncias variadas do abdômen do tocador.
      O Berimbau tem muitas vibrações trêmulas que se adaptam maravilhosamente à reprodução sonora do balanço dos quadris e dos pulos felinos dos Capoeiristas. Independentemente disso, empresta uma nota melancólica ao canto de "Lundus" que acompanha os movimentos do jogo da Capoeira.
      Segundo Oneyda Alvarenga, a música do Berimbau é uma “força que ativa as energias de dois combatentes, e dessa forma a música se liga ao jogo de forma que este último seja inteiramente dependente dela, e por ela regulado”. Assim, o ardor da batalha cresce de acordo com o crescendo ou ralentando da música.
      O outro instrumento que acompanhou a evolução da Capoeira é o caxixi. Consiste em uma cesta redonda de bambu com sementes secas dentro. O orifício é coberto com pele de cabaça seca. Ele atua como um acompanhamento ao Berimbau. Cada vez que o fio ressoa, é acompanhado pelo chocalho das sementes secas.
      O terceiro instrumento que freqüentemente acompanha o jogo da Capoeira é o "reco-reco". É um grande segmento de bambu, no qual foram feitas inúmeras incisões laterais para a fuga do ar, que é feito vibrar por um pedaço de cana que é raspado nas incisões na lateral do bambu, produzindo assim os sons característicos.
      Finalmente, devemos considerar o Pandeiro. É um instrumento regional, utilizado não só para acompanhar a Capoeira, mas também para marcar o ritmo de agitação dos nossos sambas. Sua forma é bem conhecida - o círculo de madeira de marmelo, o topo de pele de cabra e as platinelas de estanho flamengo.
      Certas associações de Capoeira usam agogô.

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      página 3

      [legenda da foto] Enquanto seu oponente cai no chão para evitar seu ataque, o Capoeira Mestre Vicente Ferreira Pastinha do Brasil mira o chute. A manobra estilizada é como uma dança em sua execução.

      MÚSICAS DO BERIMBAU
      O Berimbau é utilizado pelos acompanhantes da Capoeira para produzir melodias definidas e resolutas que modulam os ritmos do jogo. Os mais importantes são os seguintes:

      São Bento Grande - o Jogo Leve
      São Bento Pequeno - Samba da Capoeira
      Banguela - O Jogo da Faca - vigoroso, animado
      Santa Maria - O Jogo Medido
      Ave Maria - O Hino da Capoeira
      Amazonas - O Jogo Médio
      Iúna - O Jogo Rastejante
      Cavalaria - Sinalização denunciando proximidade de estranhos
      Angolinha
      Samba de Angola

      [legenda da foto] Na sua posição defensiva, Mestre Pastinha, de 74 anos, contra-ataca.

      Diante do que contamos, é fácil entender o caráter do jogo da Capoeira.
      Ao som da música de São Bento Pequeno o combate se transfigura no embate do samba.
      Os bons mestres da Capoeira, para darem uma demonstração de habilidade singular neste jogo, após golpes e contra-golpes, muito rodopio no espaço deixado pelo emaranhado de braços e pernas, terminam a batalha sem mostrar uma única marca ou mancha em suas roupas de domingo.
      Os antigos mestres, como eu, são capazes de feitos semelhantes. Na minha idade, 74, também atuo com meus alunos. Eu gostaria de fazer exposições em qualquer parte do mundo.
      Como brasileiro, tenho orgulho deste país amigo, que pode querer dar-me a oportunidade de me apresentar com meus alunos, para mostrar aos nossos irmãos americanos as possibilidades de uma defesa pessoal contra um inimigo - Um adversário ou vários adversários, sem a necessidade do uso de armas de fogo ou facas.
      Ao contrário, o Capoeirista, enfrentando seu adversário armado com uma arma, tem a possibilidade, por meio da justeza e rapidez da Capoeira, de desarmar seu oponente tirando-lhe a arma; ou, se não for possível pegar a arma, derrotá-lo com rasteira, jogando o adversário armado no chão.
      Mesmo que o Capoeirista seja fisicamente inferior ao seu oponente, um bom Capoeirista não tem medo dele, seja ele de físico superior; seja ele um homem mais jovem, ou esteja ele armado com unhas e dentes.
      Caso não seja possível eu demonstrar a Capoeira na América, ficarei orgulhoso se seu povo tiver a oportunidade de vir à nossa terra do Brasil - morar em Salvador-Bahia - conhecer intimamente esse jogo, essa defesa pessoal, que é a Capoeira, substituindo bem qualquer arma, força física, ou idade, por autodefesa.


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