Tibúrcio José de Santana
Mestre Tiburcinho
1884? - 19??
ABC de M Tiburcinho
1884(?) - Nasceu em Jaguaripe(?) filho de Francisco José de Santana e Marciana Maria de Araújo.
1968 - Apareceu no livro de W. Rego. E gravou som por filme Dança de Guerra de Jair Moura (escute acima e veja abaixo!).
1970 - Jair Moura escreveu um artigo sobre ele para A Tarde em 28 de fevereiro (leia abaixo!).
1971 - Aparece na foto com M Bimba em Nordeste de Amaralina, Salvador.
19?? - Faleceu.
Dança de Guerra, 1968
Jaguaripe, Bahia
Galeria de fotos
O texto
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-TIBURCIO E O BATUQUE
Texto e fotos de Jair Moura
28 de fev 1970Começando a sua vida de jogador de batuque nos primórdios dêste século, Tibúrcio José de Santana, conhecido nos meios do “jôgo de vadiação” como Tiburcinho, teve como mestre de batuque o velho Bernardo José de Cosme, figura respeitada lá em Jaguaripe pelo seu espírito vivaz, e lutador dos melhores daquela época. Sempre teve as apresentações do jogo subsidiário da capoeira nos festejos de Nossa Senhor D’Ajuda ou nas tradicionais romarias.
Segundo o Tiburcinho, os grandes batuqueiros dos idos de 1900, eram Lúcio Grande, de Nazare das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Brito, Liberato, Gregório Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zeca de Sinhá Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotônio, Antônio Frederico, Eusébio de Tapuiquara, este último escravo da família Abdon do município de Jaguaripe.
Afirma Tiburcinho, que o batuque era um jôgo, cuja competição era formada por dois contendores tendo como ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido as violências dos golpes destinados ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, cujos ataques eram desferidos coxa contra coxa acrescentando ao golpe uma “rapa” ou “banda” além do “baú” que é um golpe de desequilíbrio. Tôda a atenção para a luta era tomada em posição de “banda solta” ou seja forma de defesa que ambos os batuqueiros ficam de frente, equilibrados numa única perna em posição primitiva.
BATUQUE
Apesar de sua idade ultrapassar os oitenta e seis anos*, Tibúrcio permanece relativamente com a mesma disposição orgánica, dos velhos tempos, ressentindo apenas, algumas vêzes, a falta de memória. Sempre êle esquece o lugar onde guardou as coisas. Contudo ao relembrar sua vida de ex-batuqueiro, a mente torna-se clara, e entre sorrisos, descreve os fatos como se estivesse vivendo-os durante a narração. Para êle o batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido uma luta condenada pela polícia, devido as conseqüências, quase sempre terminava em conflitos, com intervenções das autoridades, trata-se de um aspeto de nossos costumes populares, e não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra. As competições geralmente realizadas em Jaguaripe e Nazaré tinham como marcação do rítmo o pandeiro, “tambaque” (tambor de guerra), e cantigas populares entre elas esta a mais tradicional, cujas estrofes assim eram entoadas: * 1970-86=1884. Talvéz Jair Moura colocou ano 1878 para o livreto de Dança de Guerra em 1968, mas em 1970 pediu M Tiburcinho especificar e ele deu seu idade de 86 [velhosmestres.com].
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Ê loandê!
Ê loandê!Tiririca, é faca de cotá
Não me cota mulequinha de SinháÊ loandê!
Mata m’embora
cada um tira o seu
vai-s’embroa!Geme no peito
morre na voz
Iaiá de Ioió
pancada no peito doiEu vi dizer
eu vi contá
rainha de Lopez
morreu no canaviáFolga nêgo,
branco não vem ca.
Se vié,
cruzo há de leváManinha vamo no mato,
no mato tem carrapato.
Maninha vamo no mangue,
no mangue tem carranguejo.
Maninha vamo na cama,
na cama ter percevejoOutra cantada dizia:
Batuqueiro nôvo
de primeiro ano
ainda não entrou
já está derrudandoAo concluir, disse Tibúrcio contando pelos dedos na mão espalmada, que os principais golpes desferidos no batuque eram: coxa lisa acompanhada; cruzo de carreiro; banda amarrada e baú. Hoje, vivendo com seu sobrinho Amaro Bonfim de Santana, lá na Madragoa, o filho de Francisco José de Santana e Dona Marciana Maria de Araújo, o Tiburcinho, não tem preocupações. Nem tem queixas, e nem alimenta ilusões, quando está chateado sai para visitar os velhos amigos, é como tantos outros que participaram ativamente dos meios de “vadiagem”. Hoje esquecido de todos, sem que o “Contro Folclórico da Bahia” utilize seus conhecimentos para elucidação e enriquecimento do nosso folclore, é um remanecente de uma época que continua atraindo a atenção, o interêsse, de muitos estudiosos da Bahia antiga.