M Cobrinha Verde:
«Rafael Alves França, conhecido como «Cobrinha Verde», é dos mais renomados dentre os mestres tradicionais da capoeira. Também fazia curas, segundo suas palavras, «pelas ervas e as águas». Foi quem primeiro me abriu caminho ao mundo da viola, dos violeiros e do seu samba, no qual era exímio.»
«Fui informado da viola do Recôncavo e do seu samba no decorrer de um trabalho que fazia em Salvador sobre o repertório musical do jogo de capoeira, e foi através de informantes de capoeira, especialmente o saudoso Rafael Alves França, o Mestre «Cobrinha Verde», que pela primeira vez fui apresentado aos violeiros do Alto da Santa Cruz, em Salvador, entre os quais Antônio «Candeá» Moura e seus colegas - na sua maioria, como «Cobrinha», emigrados do Recôncavo. Foi Cobrinha o primeiro a insistir em que eu, como músico, precisava conhecer «nosso samba... samba de viola», e levou-me a ver «Candeá», que morava alí perto.»
Seu mestre, «era mandingueiro», seguia todos esses preceitos, era um capoeira preparado, entendia de oração e de feitiço, usava patuá, sem contudo, freqüentar candomblé, e por isso «ele tinha esse poder de brigar e desaparecer» e se transformar num animal ou num objeto qualquer quando a polícia aparecia para prender ele. Tanto assim que, segundo Gigante, o delegado quando mandava prendê-lo dizia para os soldados trazerem tudo que encontrassem na casa dele, pois tinha certeza que um dos móveis era ele. Não obstante, Cobrinha não lhe ensinou nada disso porque, como Gigante explicou, se ele ensinasse suas mandingas para outra pessoa, ele perdia a força e enfraquecia.
«[M Cobrinha Verde] era um cara que fazia desordem e quando a polícia vinha para prender ele, ele sumia, ele se transformava num porco, num cachorro». Gigante chegou a se emocionar ao relembrar as histórias de Cobrinha, um homem simples que aprendeu capoeira no „meio de cachaça“, como ele mesmo contava. Gigante sorria se recordando que aquele que lhe ensinou os primeiros passos da capoeiragem em baixo de um pé do cajueiro no Chame-Chame tinha a capacidade de burlar totalmente a polícia, fazendo-a de idiota em nome da sua liberdade. E com um olhar de orgulho e satisfação nos disse que era «bonito» saber que seu mestre disfarçado de animal «... tava ali vendo a polícia e a polícia não tava vendo ele».
O percurso de Mestre Cobrinha Verde também revela a significativa influência do Recôncavo Baiano na formação da Capoeira Angola soteropolitana no que diz respeito ao misticismo e às histórias de valentia que aparecem explicitamente na capoeira do Recôncavo.
Esse mestre teria sido o responsável por introduzir na Capoeira Angola o ato de tocar o chão repetidas vezes como que fazendo um feitiço, ou pedindo proteção, movimento que se tornou emblemático da ideia de «soltar a mandinga». Esta ação seria depois difundida por Mestre João Grande, que teve contato com Cobrinha Verde.
«Aê, Rafael não sei com quem ele aprendeu, não sei. Eu já conheci ele aqui sendo mestre de capoeira. Eu não tinha muito conhecimento com ele. Mas depois ele pegou veio aqui na Pero Vaz [..] Ele também tinha academia dele foi lá na cidade. Eu não tinha entrosamento com ele.»
«Outra grande figura era o Cobrinha Verde, que ressurge [cerca de 1976]. Foi nesse período [1980 no 1° Seminario de Capoeira e festival de Ritmos de Capoeira] que a gente redescobriu o Mestre Cobrinha Verde, através de Marcelino [..]»
«Besouro e Cobrinha Verde que brigavam em Santo Amaro, eram protegidos das nega da costa. Sabe o que é nega da costa? Uma africana, chamava nega da costa antigamente, em Cachoeira. Traíra era brigador também. Cobrinha Verde andava com uma costela de vaca na cintura, um facão de dois cortes, chamava costela de vaca.»
1982, setembro - Fotos da última Homenagem a Cobrinha Verde
1982, 6 de junho - Troféu de "Honra ao Mérito"
1982, 2 de maio - «Os grandes mestres da capoeira», A Tarde
1982, 16 de fevereiro - «Capoeira - Uma grande polêmica nas rodas baianas», O Globo
1982, 9 de janeiro - «Cidade de Salvador - CAPOEIRA Quem não briga, dança», Revista Manchete