LP
CAPOEIRA
M Traíra, M Cobrinha Verde e M Gato Preto
1963
Informação
M Cobrinha Verde [1912-1983] foi convidado pelo ator de cinema Roberto Batalin [1926-2004?], para gravar um disco de capoeira junto com os mestres Traíra [João Ramos do Nascimento, 1925?-1975?] e Gato [José Gabriel Góes, 1930-2002].
M João Grande afirma o cantador Didi (Djalma da Conceição Ferreira) a ser Didi Cabeludo.
M Gato Góes afirma o Didi Cabeludo a ser o aluno de camisa listrada quem joga com M Cobrinha Verde. Cabeludo, porém sem cabelo.
Como o Dias Gomes quem escreveu o texto illustrativo menciona o fictício mestre Coca do filme Pagador de Promessas de 1962, o disco não pode ser anterior.
Velhosmestres.com fez a pesquisa das imagens do livreto do LP. Grupamos as imagens pelo local da roda. Leia mais abaixo e nas imagens!
1 Roda na RAMPA DO MERCADO com M Cobrinha Verde, M Traíra e Didi Cabeludo - 9 fotos.
2 Roda no CAIS DO PORTO com M Waldemar, M Traíra, Quabra-Jumelo (Vanildo Cardoso de Souza) - 2 fotos.
IMAGENS SEM LOCAL
1 RAMPA DO MERCADO
Não sabemos aonde foi gravado o som do LP, mas é pouco provável que isto foi feito ao ar livre. As fotos para acompanhar o disco porém foram tiradas na rampa do Mercado Modelo. Conseguimos identificar mestres Traíra e Cobrinha Verde, mas não o Gato, quem também participou como tocador de berimbau. Nas muitas das fotos podem ver Didi Cabeludo.
Para posicionar a roda na rampa do mercado identificamos ao fundo o Forte São Marcelo e a antiga Prédio de Alfândega, hoje o último Mercado Modelo.
Direções de fotos
2 CAIS DO PORTO
Duas das mais famosas fotos de Marcel Gautherot da capoeira escolhidas para acompanhar o LP.
A primeira das fotos é cortada assim que e não mostra M Waldemar da foto original.
As fotos já foram pesquisadas na página de M Waldemar, veja aqui
O texto
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página 4
-CAPOEIRA é luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jôgo, é bailado, é disputa -- simbiose perfeita de fôrça e ritmo, poesia e agilidade. Unica em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão da fôrça ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos.
Na Capoeira, os contendores não são adversários, são "camaradas". Não lutam, fingem lutar. Procuram -- genialmente -- dar a visão artística de um combate. Acima do espírito de competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta.
É preciso entretanto distinguir a verdadeira Capoeira, tal como ainda hoje é praticada na Bahia, daquela que notabilizou malandros e desordeiros, em medos do século passado, no Rio e no Recife. Aqui [no Rio, N.d.E], a Capoeira era realmente uma luta de rua, que incluia a faca e a navalha, além dos golpes caraterísticos. Levava o pânico às festas populares e provocava a justa intervenção da Polícia. Na Bahia mesmo, por aquela época, os capoeiras andavam preocupando as autoridades da província pelas desordens que provocavam. Para ver-se livres dêles, o Governo mandou-os lutar no Paraguai. E pela primeira vez a rasteira, o aú, a meia-lua e o rabo de arraia foram usados como armas de guerra. Com successo, a julgar pela História...
Mas a Capoeira é apenas uma vadiação -- assim a chamam os jogadores da Bahia, que ainda hoje a praticam nas festas no Bonfim e da Conceição da Praia, onde os mestres se exibem, continuando a glória de Mangangá e de Samuel Querido de Deus, capoeiras lendários.
TEM NOVE MODALIDADES A ARTE DA CAPOEIRA, que se distinguem pela música e pela maneira de jogar. São elas:
CAPOEIRA DE ANGOLA
ANGOLINHA
SÃO BENTO GRANDE
SÃO BENTO PEQUENO
JOGO DE DENTRO
JOGO DE FORA
SANTA MARIA
CONCEIÇÃO DA PRAIA
ASSALVA SINHÔ DO BONFIMA mais praticada -- e também a mais rica em temas e coreografia -- é a primeira. Ha também a "capoeira regional" ou "luta regional baiana", de mestre Bimba, com exertos de jiu-jitsu, box e catch, justamente repudiada pelos puristas da arte.
NA CAPOEIRA DE ANGOLA, UM RITUAL PRECEDE A LUTA: dispostos em semicírculo, os "camarados" iniciam o canto, ao som dos berimbaus, pandeiros e chocalhos. Agachados diante dos músicos, os dois jogadores, imóveis, em respeitoso silêncio. É o preceito. Os capoeiras se concentram e, segundo a crença popular, esperam o santo. Os versos do preceito variam, mas os últimos são sempre os mesmos:
Eh, vorta do mundo camarado!
É o sinal. Girando o corpo sôbre as mãos, os capoeiras percorrem a roda e dão início à luta-dança, cuja coreografia é ditada pelo andamento da música. Esta jamais é interrompida, sucedendo-se os temas, de ritmo variável, tirados pelo mestre e repetidos pelo côro. As primeiras melodias são, geralmente, dolentes -- e a luta começa em câmara-lenta, com golpes largos, onde os capoeiras evidenciam o perfeito controle dos músculos. Logo muda o toque do berimbau e o ritmo se acelera -- os jogadores mudam o jogo e as pernas começam a cortar o ar com agilidade incrível. A assistência estimula os contendores:
-- Quero ver um "rabo de arraia", Mestre Coca!
-- Seu menino, que "aú"!
-- Vamo lá, meu camarado, deixa de "mas-mas" e toca uma "chibata" nele!
E não falta um farejador de defunto que diga, soturnamente
-- Eu queria ver isso mas é à vera....A capoeira é um brinquedo. Assim, muitos golpes são proíbidos, como aqueles que atingem os olhos, os ouvidos, os rins, o estômago, etc.
Mas se a luta é à vera, vale tudo...
O golpes mais conhecidos são:
O BALÃO -- com ambos os braços, o capoeira enlaça o corpo do adversário e o atira por cima da cabeça, para trás.
A RASTEIRA -- um raspa com uma das pernas, procurando golpear os pés do contendor e deslocá-lo.
O RABO DE ARRAIA -- com ambas as mãos no chão, o capoeira descreve um semicírculo com as pernas entesadas, visando atingir o companheiro.
A CHIBATA -- o pé cai do alto, num arco de 45 graus.
O AU -- salto mortal, firmando-se sobre as mãos e lançando ambos os pés para a frente.
A BANANEIRA, A MEIA LUA E A CHAPA PÉ -- são variações da Chibata .Há ainda a CABEÇADA, o GOLPE DE PESCOÇO, O DEDO NOS OLHOS e muitos outros golpes, ou passos dêsse estranho e másculo ballet que os escravos bantus nos trouxeram de Angola, com sua bárbara e poderosa cultura.
É possível que a Capoeira, tal como é praticada hoje na Bahia, muito pouco deva à sua pátria de origem. Nos versos e nas melodias gravados neste álbum, sente-se a presença de nosso povo, em sua capacidade de assimilação e recriação. E a própria transformação de uma luta em um bailado, de uma contenda num motivo para cantar e dançar é muito de nossa gente...
A Capoeira é uma manifestação autêntica da índole, do espírito e do gênio do nosso povo. E com ela nós mandamos ao mundo uma mensagem: que bom se todo conflito, todo litígio, por mais violento, pudesse ser resolvido com música e poesia.
DIAS GOMES
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página 12
Mestre: TRAÍRA (João Ramos do Nascimento)
Cantador: DIDI (Djalma da Conceição Ferreira)
Berimbau: GATO (José Gabriel Gões)
Berimbau: CHUMBA (Reginaldo Paiva)
Berimbau: DE GUINÉ (Vivaldo Sacramento)
Pandeiro: PAI-DE-FAMÍLIA (Flaviano Xavier)
Pandeiro: QUEBRA-JUMELO (Vanildo Cardoso de Souza)
Velhosmestres.com: a seguinte parte é polémica, porque lista mais faixas do que escrito no disco.
Santa Maria - Canta TRAÍRA
São Bento Pequeno - Canta TRAÍRA
São Bento Grande - Canta COBRINHA VERDE
Angolinha - Canta COBRINHA VERDE
Cavalaria - Canta TRAÍRA
Jogo de dentro - Disputa entre dois personagem fictícios
Riachão do Diabo - Canta TRAÍRA
Angolinha Miudinha - Canta COBRINHA
Guarani - Canta TRAÍRA
DIVERSOS: Angolinha Pequena - Angola - Angola Dobrada - Santa Maria Regional - Cavalaria - Jogo de Dentro - Gêge Kêto - Iúna