• LP
     CAPOEIRA 
     M Traíra, M Cobrinha Verde e M Gato Preto 

    1962







    📻 Velhos Mestres

    Traíra e Cobrinha Verde*, 1962
    < >
    • 01.
      Santa Maria
      9:07
    • 02.
      São Bento Pequeno*
      5:30
    • 03.
      São Bento Grande
      5:21
    • 04.
      Jogo de Dentro
      6:33
    • 05.
      Cavalaria
      5:09
    • 06.
      Iúna
      1:38
    • 07.
      Seqüencia de ritmos
      7:39

    Traíra e Cobrinha Verde*



    Informação

    Dias Gomes escreveu o texto illustrativo mencionando o fictício mestre Coca do Pagador de Promessas, que saiu em teatro em 1960.

    Falaram sobre o disco de capoeira no 8 de julho de 1961 na revista Manchete (veja a imagem abaixo):

    DISCOS MOSTRARÃO O FOLCLORE COMO ÊLE É
    Um dos principais problemas de quem pesquisa o folclore brasileiro é fugir aos falsos criadores de exotismos. Por isto, a Editôra Xauã realizou amplos trabalhos de levantamento folclórico, efetuados dos próprios locais da ação. O resultado constitui o próximo lançamento de álbuns artísticos que conterão estudos específicos sôbre a matéria e gravações de canções populares, colhidas nos seus locais de origem. O primeiro disco versará sôbre o candomblé, gravado no terreiro da Menininha do Gantois, em Salvador. Em seguida, sairá "Capoeira" (foto).

    No 1 de agôsto de 1962 o Diário de Notícias tem a notícia do lançamento do disco:

    Criou-se no Rio de Janeiro, graças ao entusiasmo do alguns jovens [Salomão Scliar, Ermes Bataglin e Diamantino Domingues], a editôra Xauã, que já está fazendo um levantamento folclórico do riquíssimo acervo musical do Brasil de todo inédito em nosso país. Desacreditando assim os divulgadores profissionais de falso folclore, já lançou com enorme sucesso um disco de candomblé autêntico [no 21 de setembro de 1961], seguindo-se agora um nôvo, de música de capoeira baiana.

    M Cobrinha Verde [1912-1983] foi convidado pelo ator de cinema Roberto Batalin [1926-2004?], para gravar um disco de capoeira junto com os mestres Traíra [João Ramos do Nascimento, 1925?-1975?] e Gato [José Gabriel Góes, 1930-2002].

    M João Grande afirma o cantador Didi (Djalma da Conceição Ferreira) a ser Didi Cabeludo.

    M Gato Góes afirma o Didi Cabeludo a ser o aluno de camisa listrada quem joga com M Cobrinha Verde. Cabeludo, porém sem cabelo.

    Velhosmestres.com fez a pesquisa das imagens do livreto do LP. Grupamos as imagens pelo local da roda. Leia mais abaixo e nas imagens! Agradecemos o Cristiano Cabeleira pelas dicas.

    1 Roda na RAMPA DO MERCADO com M Cobrinha Verde, M Traíra e Didi Cabeludo - 9 fotos.

    2 Roda no CAIS DO PORTO com M Waldemar, M Traíra, Quabra-Jumelo (Vanildo Cardoso de Souza) - 2 fotos.

    IMAGENS SEM LOCAL

    • Capa do LP
      CAPOEIRA
      Documentos Folclóricos Brasileiros
      "Capoeira ou a Dança de Guerra" de Rugendas do abril de 1835

    • Reprodução de uma pintura de Augusto Rodrigues

    • Desenho de Carybé

    • FOTOS: Salomão Scliar e Marcel Gautherot

      TEXTO: Dias Gomes

      DESENHO: Augusto Rodrigues e Carybé

      PAGINAÇÃO: José Medeiros (image)

      COORDENAÇÃO geral: Editora Xauã

      PRODUÇÃO: Roberto Batalin

      Impressão: Artes Graficas Palmeiras
      Rua Barão de Itapagipe 60
      Guanabara - Brasil

    • Contra-capa
      "San-Salvador" de Rugendas do julho de 1835

    • Face A do LP

    • Face B do LP

    Imagens

    1 RAMPA DO MERCADO

    Não sabemos aonde foi gravado o som do LP, mas é pouco provável que isto foi feito ao ar livre. As fotos para acompanhar o disco porém foram tiradas na rampa do Mercado Modelo. Conseguimos identificar mestres Traíra e Cobrinha Verde, mas não o Gato, quem também participou como tocador de berimbau. Nas muitas das fotos podem ver Didi Cabeludo.

    Para posicionar a roda na rampa do mercado identificamos ao fundo o Forte São Marcelo e a antiga Prédio de Alfândega, hoje o último Mercado Modelo.

    • M Cobrinha Verde (no chão) e Didi Cabeludo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?
      Rampa do Mercado Modelo
      Acervo: 8 de julho de 1961, revista Manchete

    • Didi Cabeludo (Djalma da Conceição Ferreira) e M Cobrinha Verde (de costas)
      Foto de Salomão Scliar? (1925–1991)
      1961?
      Rampa do Mercado Modelo

    • M Cobrinha Verde (no chão) e Didi Cabeludo
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?
      Leia o texto abaixo!

    • Didi Cabeludo
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?

    • Didi Cabeludo (quadrado vermelho)
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?

    • ?,
      M Traíra (berimbau),
      M Cobrinha Verde,
      ? (berimbau),
      ?
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?


    • Jogando: ? e ?
      Didi Cabeludo no quadrado vermelho
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?


    • Jogando: ? e ?
      M Cobrinha Verde no quadrado vermelho
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?

    • M Cobrinha Verde com apito que usa no final da faixa 2 do LP
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?
      Leia o texto abaixo!

    • Berimbau na mão de M Traíra
      Rampa do Mercado Modelo
      Foto de Salomão Scliar?
      1961?

    Rampa do Mercado

    Direções de fotos

    direções de fotos

    2 CAIS DO PORTO

    Duas das mais famosas fotos de Marcel Gautherot da capoeira escolhidas para acompanhar o LP.

    A primeira das fotos é cortada assim que e não mostra M Waldemar da foto original.

    As fotos já foram pesquisadas na página de M Waldemar, veja  aqui 

    • Jogando: ? e ?
      Cais do Porto
      Parte de uma foto de Marcel Gautherot, ca 1954

    • M Traíra e Quebra-Jumelo
      Cais do Porto
      Parte de uma foto de Marcel Gautherot, ca 1954

    Cais do Porto

    O texto

    • página 4

      -

      CAPOEIRA é luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jôgo, é bailado, é disputa -- simbiose perfeita de fôrça e ritmo, poesia e agilidade. Unica em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão da fôrça ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos.

      Na Capoeira, os contendores não são adversários, são "camaradas". Não lutam, fingem lutar. Procuram -- genialmente -- dar a visão artística de um combate. Acima do espírito de competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta.

      É preciso entretanto distinguir a verdadeira Capoeira, tal como ainda hoje é praticada na Bahia, daquela que notabilizou malandros e desordeiros, em medos do século passado, no Rio e no Recife. Aqui [no Rio, N.d.E], a Capoeira era realmente uma luta de rua, que incluia a faca e a navalha, além dos golpes caraterísticos. Levava o pânico às festas populares e provocava a justa intervenção da Polícia. Na Bahia mesmo, por aquela época, os capoeiras andavam preocupando as autoridades da província pelas desordens que provocavam. Para ver-se livres dêles, o Governo mandou-os lutar no Paraguai. E pela primeira vez a rasteira, o aú, a meia-lua e o rabo de arraia foram usados como armas de guerra. Com successo, a julgar pela História...

      Mas a Capoeira é apenas uma vadiação -- assim a chamam os jogadores da Bahia, que ainda hoje a praticam nas festas no Bonfim e da Conceição da Praia, onde os mestres se exibem, continuando a glória de Mangangá e de Samuel Querido de Deus, capoeiras lendários.

      TEM NOVE MODALIDADES A ARTE DA CAPOEIRA, que se distinguem pela música e pela maneira de jogar. São elas:

      CAPOEIRA DE ANGOLA
      ANGOLINHA
      SÃO BENTO GRANDE
      SÃO BENTO PEQUENO
      JOGO DE DENTRO
      JOGO DE FORA
      SANTA MARIA
      CONCEIÇÃO DA PRAIA
      ASSALVA SINHÔ DO BONFIM

      A mais praticada -- e também a mais rica em temas e coreografia -- é a primeira. Ha também a "capoeira regional" ou "luta regional baiana", de mestre Bimba, com exertos de jiu-jitsu, box e catch, justamente repudiada pelos puristas da arte.

      NA CAPOEIRA DE ANGOLA, UM RITUAL PRECEDE A LUTA: dispostos em semicírculo, os "camarados" iniciam o canto, ao som dos berimbaus, pandeiros e chocalhos. Agachados diante dos músicos, os dois jogadores, imóveis, em respeitoso silêncio. É o preceito. Os capoeiras se concentram e, segundo a crença popular, esperam o santo. Os versos do preceito variam, mas os últimos são sempre os mesmos:

      Eh, vorta do mundo camarado!

      É o sinal. Girando o corpo sôbre as mãos, os capoeiras percorrem a roda e dão início à luta-dança, cuja coreografia é ditada pelo andamento da música. Esta jamais é interrompida, sucedendo-se os temas, de ritmo variável, tirados pelo mestre e repetidos pelo côro. As primeiras melodias são, geralmente, dolentes -- e a luta começa em câmara-lenta, com golpes largos, onde os capoeiras evidenciam o perfeito controle dos músculos. Logo muda o toque do berimbau e o ritmo se acelera -- os jogadores mudam o jogo e as pernas começam a cortar o ar com agilidade incrível. A assistência estimula os contendores:

      -- Quero ver um "rabo de arraia", Mestre Coca!
      -- Seu menino, que "aú"!
      -- Vamo lá, meu camarado, deixa de "mas-mas" e toca uma "chibata" nele!
      E não falta um farejador de defunto que diga, soturnamente
      -- Eu queria ver isso mas é à vera....

      A capoeira é um brinquedo. Assim, muitos golpes são proíbidos, como aqueles que atingem os olhos, os ouvidos, os rins, o estômago, etc.

      Mas se a luta é à vera, vale tudo...

      O golpes mais conhecidos são:

      O BALÃO -- com ambos os braços, o capoeira enlaça o corpo do adversário e o atira por cima da cabeça, para trás.
      A RASTEIRA -- um raspa com uma das pernas, procurando golpear os pés do contendor e deslocá-lo.
      O RABO DE ARRAIA -- com ambas as mãos no chão, o capoeira descreve um semicírculo com as pernas entesadas, visando atingir o companheiro.
      A CHIBATA -- o pé cai do alto, num arco de 45 graus.
      O AU -- salto mortal, firmando-se sobre as mãos e lançando ambos os pés para a frente.
      A BANANEIRA, A MEIA LUA E A CHAPA PÉ -- são variações da Chibata .

      Há ainda a CABEÇADA, o GOLPE DE PESCOÇO, O DEDO NOS OLHOS e muitos outros golpes, ou passos dêsse estranho e másculo ballet que os escravos bantus nos trouxeram de Angola, com sua bárbara e poderosa cultura.

      É possível que a Capoeira, tal como é praticada hoje na Bahia, muito pouco deva à sua pátria de origem. Nos versos e nas melodias gravados neste álbum, sente-se a presença de nosso povo, em sua capacidade de assimilação e recriação. E a própria transformação de uma luta em um bailado, de uma contenda num motivo para cantar e dançar é muito de nossa gente...

      A Capoeira é uma manifestação autêntica da índole, do espírito e do gênio do nosso povo. E com ela nós mandamos ao mundo uma mensagem: que bom se todo conflito, todo litígio, por mais violento, pudesse ser resolvido com música e poesia.

      DIAS GOMES

    • +

      página 12

      Mestre: TRAÍRA (João Ramos do Nascimento)

      Cantador: DIDI (Djalma da Conceição Ferreira)

      Berimbau: GATO (José Gabriel Gões)

      Berimbau: CHUMBA (Reginaldo Paiva)

      Berimbau: DE GUINÉ (Vivaldo Sacramento)

      Pandeiro: PAI-DE-FAMÍLIA (Flaviano Xavier)

      Pandeiro: QUEBRA-JUMELO (Vanildo Cardoso de Souza)

      Velhosmestres.com: a seguinte parte é polémica, porque lista mais faixas do que existem no disco:

      [FACE A]

      Santa Maria - Canta TRAÍRA

      São Bento Pequeno - Canta TRAÍRA [na verdade canta Cobrinha Verde e é assim escrito no disco]

      São Bento Grande - Canta COBRINHA VERDE [na verdade canta Traíra e é assim escrito no disco]

      Angolinha - Canta COBRINHA VERDE [essa faixa não existe no disco]

      [FACE B]

      Cavalaria - Canta TRAÍRA [é faixa 2 no disco]

      Jogo de dentro - Disputa entre dois personagem fictícios [é faixa 1 no disco]

      Riachão do Diabo - Canta TRAÍRA [não existe no disco]

      Angolinha Miudinha - Canta COBRINHA [não existe no disco]

      Guarani - Canta TRAÍRA [não existe no disco]

      [Iuna - a faixa existe no disco, mas não nos textos]

      DIVERSOS: Angolinha Pequena - Angola - Angola Dobrada - Santa Maria [-] Regional - Cavalaria - Jogo de Dentro - [Guarani] - Gêge [-] Kêto - [Iúna] [no disco a faixa existe como SEQÜENCIA DE RÍTMOS]


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